segunda-feira, 18 de junho de 2012

Séculos de silêncio destroem história


A sessão ordinária da última terça-feira, dia 12, da Câmara Municipal de Guarulhos começou com críticas pela não realização de sessões anteriores, por falta de quórum, seja por manobra regimental da bancada governista, seja por outro motivo qualquer. A crítica partiu não só de vereadores da oposição, mas também da situação. Quem quebrou essa rotina foi o vereador Jonas Dias, do PT, que pediu a palavra para comunicar o falecimento do antigo vereador Gabriel Silva, e pedir um minuto de silêncio em sua homenagem. Em seguida Luíza Cordeiro, do PCdoB usou a tribuna, também para criticar a ausência de sessão na terça-feira anterior, quando se comemorava o Dia Mundial do Meio Ambiente. Aproveitou para convidar os vereadores para a solenidade da entrega do Selo Ambiental, que se realizaria na quarta-feira, e solidarizou-se com o colega petista no requerimento do minuto de silêncio. Edmilson de Souza, também do PT, que presidia a sessão anunciou que atenderia ao requerimento após o Pequeno Expediente.

Esqueceu-se, e deu início à Ordem do Dia. Não fiquei até o fim da sessão, e não sei se o requerimento foi atendido até o término dos trabalhos.

Mas o que é um minuto diante da vida desse batalhador socialista, que morreu aos 90 anos, e fez parte não só da História de Guarulhos, mas também do Brasil? Foi companheiro de Monteiro Lobato na sua luta pelo petróleo brasileiro, quando o ditador Vargas, aliado da Shell considerava essa tese subversiva. Fundou o Partido Socialista Brasileiro ao lado de Cid Franco, Freitas Nobre, Rogê Ferreira e tantos outros, numa época em que as palavras tinham sentido e os partidos tinham ideologia. Cassado pelo golpe militar de 64, ajudou a fundar, mais tarde, o MDB, e fez parte da bancada oposicionista na Câmara Municipal de Guarulhos.

Abandonou a política antes dessa degringolada que assistimos hoje, quando não podemos saber quem é quem, qual a posição de qualquer partido ou qualquer político, com raras exceções. Vi-o pela última vez, já debilitado e sem vontade de falar ao lado de Valdomiro Veloso e Kan Kise, seus parceiros dessa época na nossa Câmara Municipal.

E agora, quem contará essa história? Quem trará, através da vida, das ações desse velho socialista, retalhos de uma época não tão distante, para que os mais jovens nela se espelhem? Guarulhos é uma cidade, um município, sem identidade e sem história, em um país sem memória. Cada vez que morre alguém que fez parte desse passado já morto, mais pobres ficamos. Ainda bem que existe o ‘Guarulhos tem História’ cujos abnegados membros terão exaustivo trabalho para pesquisar parcos documentos para restaurar pelo menos parte do passado e da nossa identidade.

Publicado na Folha Metropolitana em 15 de junho de 2012

sexta-feira, 16 de março de 2012

Entrevero de coronéis

Fim de feira no Sertão, a noite caindo·antes do tempo, os mascates desarrumando as barracas sob o calor escaldante, o forasteiro caminhando tranquilo pela movimentada Rua do Mercado pediu uma bicada na primeira esquina, uma segunda mais adiante e dali observou - com seus olhos de cão danado - a escassos metros de distância, o sono sereno e sossegado de sua própria e próxima vítima.
Estirado numa até então confortável espreguiçadeira o rico fazendeiro Zé Nobre descansava na calçada de sua pacata residência, os olhos fechados, as curtas pernas cruzadas, a mão direita apoiando a pequena cabeça repousada sobre improvisado travesseiro. Quem sabe, até sonhasse!... E mil razões tinha o coronel Zé Nobre para tantos sonhos: o filho único no melhor colégio da região, futuro doutor de anel no dedo e diploma na parede da sala de visitas, a bela fazenda cada vez mais próspera após a construção do Açude Novo, o gado farto de tanta pastagem, o preço do leite subindo, tudo de bom sorrindo para o rico fazendeiro, homem pacato dedidado à família e aos negócios. Minutos antes o coronel Zé Nobre saíra à calçada, fitando com seus olhos miúdos a gente que passava, escutando com dificuldade o relinchar de bestas e cavalos retornando ao campo sob o peso de seus donos e mochilas abarrotadas de farinha, carne seca, rapaduras e quinquilharias dais mas diversas.
Maria Mulungú aproximou-se, a trouxa de roupas na cabeça totalmente embranquecida pelo vendaval do tempo, o pigarrento cachimbo mil vezes triturado pela fértil imaginação pois dentes já não os tinha na boca sempre fedendo a cachaça.
- Boas tarde, coroné.
- Como vai, Maria. Bebeu muito hoje? - sorriu o fazendeiro zombando da velha lavadeira, vinda ninguém sabe de onde, há muitos, muitos anos.
- Num bebo não coroné... é tudo mentira dos moleque - justificou-se entre um arroto e outro.
- Esses moleques não prestam mesmo, né, Maria? - o coronel Zé Nobre gargalhava brincando com aquela preta retinta de quem todo mundo gostava.
- Dizê que a preta véia bebe cana - respondia com raiva, a baba espessa escorregando pelos cantos da boca banguela - é mentira dos muleque, coroné. Num bebo não, enfatizava ainda mais segurando o amarrotado cachimbo que parecia escorregar dos seus beiços.

domingo, 11 de março de 2012

A lição de um sorveteiro


Era verão, e eu estava gozando alguns dias de férias, com um amigo, na pequena e simpática cidade de Iguape. Por incrível que pareça, houve uma vez um verão, e este camelo que batuca estas mal datilografadas linhas, esteve em férias. Iguape é uma cidade do Vale do Ribeira, meio interiorana, meio litorânea, para se chegar à praia é preciso atravessar o rio e cortar a Ilha Comprida.
Fomos a uma sorveteria, cujo proprietário - por ser uma cidade onde o turismo ainda não conseguiu estragar - percebeu que éramos forasteiros. E havia tantos tipos e sabores de sorvete, que não sabíamos como escolher. Havia sorvete de queijo, de chiclete, de caramelo, e das mais variadas frutas. E das mais inacreditáveis misturas, tipo abacaxi com goiaba, caju com mel, o diabo. Alguns desses gelados tinham nomes pitorescos, e nós não sabíamos o que significavam.
Para ajudar a nossa escolha, o sorveteiro ia nos dando amostras. E contando histórias. "Esse sorvete eu fiz por engano, misturei coisas erradas, e ficou bom. Estava pensando na morte da bezerra, fiz besteira, mas valeu a pena. O duro foi lembrar, depois a fórmula usada por engano, para repeti-la. Mas ficou gostoso, prove". E nós provamos, e gostamos. Outro, ele tinha aprendido na Bahia, em um congresso de sorveteiros. Outro, ele tinha copiado de uma revista estrangeira. e, de amostra em amostra, fomos ficando gelados e de barriga cheia, sem conseguir optar por nenhum sabor. E, quando demos pela coisa, nem podíamos optar, pois mal conseguíamos suportar a palavra sorvete. Estávamos empanturrados. Assim mesmo, para não ficar chato, pedimos cada um seu sorvete, pagamos, e fomos embora.
Bem, o fato é que existem milhões de sorveteiros no mundo. Todos querem vender, fazer freguesia, e para isso procuram fazer o melhor. Mas nunca tínhamos conhecido alguém com tanto amor pela profissão. Um sorveteiro que fazia pesquisas, cursos, viajava para conhecer coisas novas do seu metier. Alguém capaz de escrever livros ou fazer palestras sobre essa coisa saborosa que a gente costuma chupar e engolir sem pensar muito.
O moral da história, é que esse passeio de férias, entre praias, pinga de banana, muito sorvete e muita cerveja, e "outras cositas más", foi instrutiva para mim. Comecei acreditar mais no futuro do mundo e do Brasil, coisa difícil de se acreditar. Afinal, existe, numa cidade pequena do Estado de São Paulo, quase divisa com o Paraná, no paupérrimo Vale do Ribeira, um sorveteiro que gosta e acredita no sorvete. Porque, infelizmente, existem médicos e donos de hospitais, professores e donos de escolas, jornalistas e donos de jornal, que simplesmente exercem suas funções para ganhar dinheiro, para sobreviver, sem qualquer indício de amor, sem qualquer tesão.

Publicado em 15 de maio de 1990 no Repórter da Cidade - Olho Vivo

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Deficientes, negros, todo mundo, uni-vos

Permitam que eu me apresente. Sou um mamífero da espécie homo sapiens, macho (mas não machista ou machão), quase setuagenário, paulistano, paulista, brasileiro, eurodescedente. Sou jornalista, aposentado por invalidês, mas ainda sirvo para alguma coisa. Por exemplo, escrever com meu computador falante, munido com o programa Dos Vox, elaborado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).


Sou DV e BV, ou deficiente visual com baixíssima visão. Mas podem me chamar de cego, ceguinho ou cegueta, não tenho medo de palavras. Ou melhor, não tenho preconceito contra palavras. Ando com uma bengala branca que me serve de olhos e de documento de cego. Não tenho qualquer religião, não acredito em duendes, mas conto sempre com uma legião de anjos-da-guarda, todos com braços e pernas, sem asas. Alguns são profissionais, treinados, do Metrô ou da CPTM. Outros são amadores, amigos do peito ou bons samaritanos que encontro casualmente.


Alguns não sabem como conduzir um cego, mas a todos agradeço pela boa vontade. Só quem se torna deficiente descobre como realmente o brasileiro sabe ser humano e solidário.


Estou em busca de uma frase para iniciar bem minha jornada na Folha Metropolitana, no mês de dezembro e no espírito natalino, que deve contagiar a todos, mesmo os não cristãos, desde que não sejam chatos. Ia quase escrevendo que queria entrar com o pé direito, mas isso poderia ser considerado como preconceito contra o pé esquerdo. Não quero ser politicamente correto por que não gosto de pensar politicamente, e já não sei mais (justamente por causa dos políticos) o sentido da palavra ‘correto’.


Há muitos dias e muitas campanhas contra tudo que se considera discriminação. Há muita gente que se sente discriminada, e acredito que essas coisas é que se tornam discriminatórias. É o Dia da Consciência Negra, da Mulher, do Deficiente, da Criança e do Adolescente, contra a agressão à mulher, contra a homofobia, e uma série interminável de reticências e etcéteras. Tudo isso poderia ser transformado em Dia da Consciência Humana, contra toda espécie de discriminação e de violência.


Essa data poderia ser comemorada de 1 de janeiro a 31 de dezembro. O único problema é que não haveria feriado para comemorá-la.


Ah, achei a frase: “Seres humanos de todos os sexos, nacionalidades, etnias, crenças (e descrenças), partidos, ideologias, torcidas, doenças, taras e manias, uni-vos (respeitando as diferenças e sem perder as características individuais e grupais). Nada tendes a perder se não os vossos preconceitos, complexos e neuras”.






Publicado na Folha Metropolitana em 03/12/2011

Mão direita de Deus e esquerda de Lula

O Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão foi um dos pioneiros da Aviação. Brasileiro, nascido em Santos, viveu em Portugal, onde era protegido do rei. Lá começou a tentar inventar a Passarola, uma engenhoca com formato de um grande pássaro, com um mecanismo que fazia agitar as grandes asas e alçar vôo. A coisa chegou a sair do chão, pilotada pelo padre, mas acabou se chocando com uma montanha, quase matando o pobre inventor. Desacreditado, amaldiçoado, ele foi para a Espanha, onde morreu solitário em um hospital de Toledo. E virou personagem do escritor português José Saramago, no romance ‘Memorial do Convento’.


Não sei até onde vai a realidade histórica e onde começa a fantasia do irreverente e ateu escritor. No romance, o padre brasileiro tinha idéias extravagantes que escandalizavam os católicos, como se não bastasse a mania de inventar uma máquina voadora. Uma delas é que Deus é maneta. Se os justos, que amam Deus acima de tudo vão ao Céu, à sua mão direita, se os outros vão para o Inferno, ninguém fica à sua esquerda. Conclue-se que o Todo Poderoso não tem a mão esquerda.


Outrora a esquerda representava tudo que há de ruim. O diabo era canhoto e as crianças que tinham mais destreza com a mão esquerda eram obrigadas a ser reeducadas. As mães amarravam a sua mão esquerda para que os coitados perdessem essa peculiaridade. Mas hoje as coisas mudaram e a esquerda está na moda.


No Brasil, após os anos de chumbo, não existe direita. O espectro político-ideológico vai do centro à esquerda, em várias nuances. Mas os que pretendem ser os donos da História taxam de direitistas todos os que discordam deles. E essa taxação equivale a xingar a progenitora deles.


Getúlio Vargas começou namorando o Nazismo, acabou virando americanista de carteirinha e acabou namorando os comunistas, com apoio de Luiz Carlos Prestes. Na época de sua ditadura Plínio Salgado fundou o Integralismo, versão tupiniquim do Nazismo. Recentemente o histriônico Eneas fez discursos nitidamente direitistas, mas seu partido, o Prona fornecia legenda a quem comprasse seu livro, sem compromisso ideológico.


Hoje, o espectro político está embaralhado. Maluf, Collor e Delfim Neto, que eram satanizados, foram entronizados no Paraíso, à mão esquerda de Lula. Quem encarna o Satã de Direita é o PSDB. Na última campanha eleitoral andaram espalhando que Serra, se eleito, acabaria com a Bolsa Família, o Salário Mínimo, as férias e o descanso remunerado aos domingos e feriados. Se possível revogaria a Lei Áurea. Muita gente que não gosta do PT votou em Dilma no segundo turno, para exorcizá-lo.


Enfim, hoje Deus está à esquerda e o Diabo à direita. Será que tucano come criancinha?






Publicado na Folha Metropolitana em 21/10/2011

Escândalos acima de qualquer ideologia

Ganhei de uma amiga uma coleção de CDs da revista Veja, gravados pela Fundação Dorina Nowil, com uso exclusivo para deficientes visuais. São de 2006 a 2009. É interessante rever notícias passadas, e ainda há muitos artigos interessantes e reportagens instrutivas, que não perdem a atualidade. Sem contar com o sempre irônico e filosófico Millôr Fernandes. Numa delas ele traz uma fictícia MP do Governo: “Ficam proibidos novos escândalos até o fim do ano. A agenda está lotada.” É de 2009, mas atualíssima.


Muita gente critica a Veja por suas constantes críticas ao PT. Como se nunca antes um órgão de imprensa se especializasse em criticar quem está no governo. E se não houvesse outros órgãos que vivem a louvar o PT e desancar a oposição, taxando-a de direitista, inimiga dos trabalhadores. A revista defende o capitalismo, e é coerente, pois pertence a um grande grupo econômico. Se o melhor do capitalismo é ser


capitalista, como dizia há tempos a propaganda de um banco, o melhor do comunismo é ser sindicalista ou membro do comitê central do único partido permitido.


O escândalo da temporada envolve o Ministério dos Esportes e seu programa ‘Terceiro Tempo’, que visa a oferecer prática esportiva a crianças. Esse ministério pertence ao PCdoB, e seu ex-comandante (que saiu do governo na última quinta-feira), Orlando Silva. Ele não é o ‘cantor das multidões’, mas já atuou em Guarulhos, de forma que não posso deixar de mencionar o fato. Faço- com tristeza, pois embora não acredite mais na utopia comunista, respeito os que ainda acreditam. Conheço e privo da amizade de muitos deles e boto a mão no fogo por suas boas intenções. Mas a honestidade, bem como a desonestidade não é monopólio de qualquer partido, ideologia ou religião.


O único argumento dos que são acusados de corrupção é alegar que seus adversários também o são. Isso só demonstra que a safadeza está generalizada. Essa constatação vem ao encontro das palavras da sábia tia Zulmira, personagem de Sergio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, da ‘Última Hora’ dos anos 70: «Restaure-se a honestidade ou locupletemo-nos todos.»


Nessa época só os políticos aliados do governo militar eram corruptos. Os outros, que faziam oposição ainda não tinham aprendido o ofício. Mas a corrupção é coisa antiga, embora hoje esteja mais democratizada.


Diz uma crônica, que quando D. Pedro II seguia para o exílio, após a proclamação da República, um ex-ministro que o acompanhava reclamava. O ex-imperador voltava para a terra dos seus pais, que ainda lá reinavam, e ele, ex-ministro nada tinha. Ao que D. Pedro respondeu: «Azar seu. Por que não roubou, como os outros?».






Publicado na Folha Metropolitana em 28/10/2011

Curtindo o mutante idioma brasileiro

Eu e meu jovem amigo Wender Cardoso, o ‘Mãozinha’, resolvemos uma vez fazer um poema a quatro mãos. Seria um diálogo entre um velho e um jovem, e pretendíamos apresentá-lo teatralmente em um sarau, desses que realizávamos sempre na Biblioteca Monteiro Lobato e outros locais. Eu fazia o velho e ele o jovem, em uma discussão. Improvisávamos os versos enquanto caminhávamos pelas ruas de Bonsucesso, Ponte Alta e adjacências, e ele ia anotando-os em um caderno. Ele teve que ir embora para Minas, e não sei se levou o caderno ou se o perdeu. A obra não foi concluída, e creio que a literatura universal nada perdeu com isso.

O ‘Mãozinha’, como a maioria dos brasileiros, mesmo os escolarizados, não era muito bom em gramática, principalmente em tempo de verbos e concordância, e misturava a segunda com a terceira pessoa, entre o «tu» e o «você». Eu tentava corrigir, vertendo tudo para o «você» ou «o senhor», mas acabei concluindo que não dava certo. As coisas ficavam sem graça, forçadas, e resolvi deixar como estava.

Concluí que as regras gramaticais não são dogmas religiosos, e às vezes o errado fica mais bonito e verdadeiro.

Devemos reconhecer que temos o nosso próprio idioma, muito parecido com o Português, mas não idêntico. Talvez, pelo menos, um dialeto. Podíamos falar em dialetos regionais, mas os brasileiros de todas as regiões e os estrangeiros estão tão misturados que hoje nós, paulistas, falamos um pouco do italiano e um pouco do nordestino. Esse dialeto, nascido da palavra falada, não tem regras, o que o torna mais variado,rico e bonito.

Encontrei-me um dia destes com uma velha senhora portuguesa que pediu-me uma informação. Não entendi uma palavra do que ela disse. Nem tanto pelos termos usados, mas principalmente pelo sotaque e pela rapidez com que ela falava. Não sei se ela chegou recentemente da ‘santa terrinha’ ou se vive reclusa com a família e não tem prática em falar o ‘brasileiro’. Senti muito, mas devo ter parecido mal educado e não pude dar a informação pedida. Conheço outros lusitanos que falam mais pausadamente e consigo entender o que falam, embora em sua linguagem, por sinal belíssima. Conheço também alguns angolanos, e parece-me que eles falam exatamente como os portugueses. Será que só o brasileiro inventou seu próprio dialeto?

Acontece que a ‘língua brasileira’ é mutante. Palavras e expressões surgem e desaparecem. Algumas expressões, como ‘à beça’ e ‘caramba’, que são do tempo do Império ainda fazem parte do vocabulário familiar, outras palavras da gíria desapareceram e não deixaram sinal. Uma vez, conversando com alguns jovens eu usei a expressão ‘pra frentex’, que na minha adolescência (parece que foi ontem) significava ‘para frente’, ‘vanguarda’, e eles pensaram que eu estava falando algum idioma estrangeiro. A nossa língua é realmente ‘uma pândega’.

Publicado na Folha Metropolitana em 11/11/2011

Xingar a escuridão não faz nascer a luz

Nós brasileiros podemos nos consolar com os espanhóis. Eles também votaram inconscientemente, movidos pela ira contra a crise que assola o país, reflexo da crise mundial. É claro que não me atrevo a dar palpite sobre qual seria o melhor candidato, mas eles não votaram na direita por julgarem que Rajoy era melhor do que Rubalcaba, mas apenas para demonstrar sua ira contra o atual primeiro-ministro, o socialista Zapatero, que tomou medidas de corte de gastos para debelar a crise.
Acontece que o candidato de direita anunciou, de maneira honesta, que se eleito reduziria os gastos. Votaram de pura e inconsequente ira, como quem tropeça numa pedra e xinga a mãe dela. Se a crise não for debelada, nas próximas eleições votarão novamente no Partido Socialista, para vingar-se de Rajoy. Resta saber que gastos serão cortados. Não sei se na Espanha, como aqui, há orgia de gastos em cargos e benesses para beneficiar os apaniguados do governo.
Nós aqui também costumamos votar apenas para demonstrar nossa raiva contra os eternos desmandos dos governantes, independente de partidos. Votamos em Tiririca, Clodovil, Enéas e outros tipos folclóricos, como a dizer que todos são a mesma porcaria. Acontece que esses tipos em quem descarregamos nosso protesto são candidatos de fato, se elegem e tomam posse, tornando ainda menos sério o já desmoralizado Legislativo. No passado, antes da urna eletrônica tínhamos que escrever o nome e o número do candidato. A coisa tinha mais graça, pois votava-se no macaco Tião, no rinoceronte Cacareco, no bode Cheiroso. Esses ‘candidatos’ não tomavam posse, o voto era anulado. Podíamos também escrever na cédula palavras de ordem ou piada. Afinal, se nenhum dos candidatos nos agrada nada mais legítimo do que anular nosso voto. Embora existam candidatos sérios  em todos os partidos e votar neles seria a melhor forma de aprimorar a nossa salada política. Nas eleições majoritárias também costumamos votar no candidato ‘menos pior’ para derrotar o ‘mais pior’.
No Egito algumas mulheres protestaram saindo nuas na rua. Dependendo de suas idades e formas físicas, é uma boa ideia. Melhor do que queimar pneus, depredar veículos e edíficios públicos ou privados, ou votar em Tiriricas. Eu não canso de repetir que política não é coisa séria.
Talvez eu seja o analfabeto político de que Brecht falou. Mas a coisa está tão bagunçada que acredito que aqui e agora essa pecha caiba mais nos líderes partidários sem ideologia e nos candidatos que nos pedem voto, sem saber o que fazer com o mandato que lhes outorgarmos.


Publicado na Folha Metropolitana em 02/12/2011

O gravador cassete e a religiosidade

Há cerca de um mês minha amiga Guilhermina ligou-me avisando que Valdir Del Chiaro oferecêra-me o gravador cassete que fora de seu tio, o saudoso líder espírita Amílcar Del Chiaro, autor de livros e artigos sobre a doutrina, e de textos radiofônicos para a rádio Boa Nova. Ele é uma das pessoas que mais admirei na vida. Homem doente teve uma vida sofrida, mas era extremamente alegre e otimista, dono de uma generosidade à toda prova. A doutrina espírita, para ele, não era apenas tema de seus escritos, mas refletia-se em seu modo de viver.

Sou uma espécie de ‘herói da resistência’ do cassete, aparelho tão prático e necessário, infelizmente  fora de linha. Já escrevi algo a respeito. Já tinha um, mas não poderia recusar a oferta, principalmente por ter sido de tão admirável personagem. Seria como uma relíquia, uma lembrança. Marcamos que no sábado seguinte iríamos ao centro espírita Herculano Pires, onde seu Amílcar militava e seu sobrinho milita. Cerca de uma hora depois do telefonema de Guilhermina meu gravador quebrou. Seria uma simples coincidência?

No sábado marcado uma forte gripe me derrubou. Era um dia horrível, frio e chuvoso dessa hibernal primavera, e eu não pude ir. No sábado seguinte a Academia Guarulhense de Letras realizou o Banquete Literário, e também não pude comparecer. Neste último sábado, 3/12, Dia Internacional da Pessoa Deficiente, o Conselho Municipal das Pessoas Deficientes realizou um programa cultural, mas ele terminou cedo, e deu para comparecer ao centro. Por mais uma dessas coincidências, o palestrante do dia era Valdir Del Chiaro, e o tema era justamente a vida de seu ilustre tio, que desencarnou no dia 29 de novembro de 2006.

Não sou espírita, não tenho religião, nem filosofia ou ideologia. Tenho muitas dúvidas sobre as verdades absolutas e o ponto de interrogação parece-me tão útil como a minha bengala branca de cego. Mas gosto das palestras espíritas, que falam de humanismo, solidariedade, caridade, lições que Jesus nos deixou, e que outras religiões pouco falam. Esses atributos, no meu entender, são deveres básicos dos seres humanos, independente de terem ou não uma religião, acreditarem ou não em um deus.

Num momento de dificuldade na minha vida, quando a doença me obrigou a ficar preso em casa, com risco de depressão, Guilhermina levou-me ao Herculano Pires, e nem ela nem o saudoso Amílcar podem saber quanto isso me fez bem e ajudou na minha recuperação. Por isso, apesar da minha descrença nas religiões e nas imagens sagradas, o gravador que ganhei, além de sua utilidade prática, vale-me como um amuleto contra a descrença na humanidade.

Publicado na Folha Metropolitana em 09/12/2011

Nem Freud nem os técnicos explicam

Depois de muito sofrimento e muito xingatório acostumei-me e adaptei-me ao novo sistema de transporte coletivo de Guarulhos. Eu e, certamente toda a população, ou a maioria. A gente se adapta a tudo, basta sair de casa mais cedo e tomar duas conduções, em casos em que antes se tomava apenas uma. De vez em quando ainda deparo com surpresas que me deixam intrigado.

Na segunda-feira fui ao Café Cultura, aprazível mistura de livraria e barzinho situado na Rua Renato de Andrade Maia, próximo do Senai, que dá espaço aos escritores guarulhenses. Para ir saltei do ônibus na Avenida Tiradentes, próximo da Rua Renato Maia, e andei um bocado. Na volta, como queria ir ao o Centro tomei um ônibus na proximidade, e o motorista informou que ele só parava no ponto do Hospital Carlos Chagas. Teria que andar outro bocado, mas me conformei. O brasileiro é conformado, esse é o nosso maior defeito e a nossa maior qualidade. Lembrei-me, porém de perguntar se ele passava pela Monteiro Lobato, e diante da resposta positiva resolvi descer no Adamastor e tomar outra condução.

Como tenho um resíduo de visão consegui perceber que ele passou pela Matriz. Não sei que volta deu, mas isso não é da minha conta. O óleo diesel é barato mesmo. O importante é saber que passou pelo Centro, bem perto de onde eu queria ir. Por um motivo que nem Freud nem os técnicos de trânsito explicam, não parou em nenhum ponto. Nem Freud nem os técnicos explicam também por que os ônibus que vão para a região do Taboão pela Avenida Tiradentes não param no ponto existente pouco antes do Paço Municipal.

Será que o prefeito está tão convencido da sua popularidade que não faz questão dos votos dos usuários do transporte coletivo? Ou será que os secretários dos Transportes (o atual e o seu antecessor, que inventou a brincadeira serão tucanos infiltrados na Administração para sabotá-la)?

A bem da verdade não culpo o prefeito, cara simpático e popular, com o qual tenho grande amizade de há muito tempo. Costuma-se criticar os políticos, quase sempre com razão, mas parece-me que quem atrapalha muitas administrações são os técnicos. Eles querem resolver todos os problemas na prancheta, através de cálculos, sem a mínima preocupação com a realidade.

Sem ver os problemas de perto. Sem se preocupar-se com os interesses e a comunidade do ‘povinho’, essa gente chata que gosta de tomar condução ou dirigir seu carro só para atrapalhar seus belíssimos projetos de  cidade moderna, de trânsito fluindo tranquilamente. O diacho é que existem carros e pessoas, cada vez em maior quantidade.

Publicado na Folha Metropolitana em 16/12/2011

Natal de todos os crentes e descrentes

É Natal, nasceu Jesus!!! Para os cristãos ele é o filho de Deus feito homem, que nasceu, sofreu, foi crucificado, ressuscitou e subiu aos Céus para nós salvar. Para os muçulmanos ele foi o segundo maior profeta que a humanidade já produziu, superado apenas por seu primo Maomé. Os judeus o consideram um grande profeta, mas não Deus.
Ainda esperam por um Messias, que a julgar pela situação em Jerusalém ainda está longe de aparecer. Infelizmente o seu deus não é também dos palestinos, e lhes nega o direito elementar de ter uma pátria. Para os não-religiosos Jesus foi apenas um filósofo, um pensador humanista que substituiu a ideia de um deus truculento e autoritário por um manso cordeiro da paz. Para alguns ateus, agnósticos e materialistas ele não existiu, é apenas uma lenda. Mas que lenda maravilhosa!
Para todos, porém, o Natal é  dia de festa, de confraternização, de troca de presentes. Os mais devotos oram antes de cair na alegria, nos comes e bebes e na confraternização. Todos, porém, gostam de uma mesa farta, de acordo com suas possibilidades. Não há nada de errado em tais manifestações. Em toda história da humanidade, antes do nascimento de Cristo comer, beber e brindar foram ato natural, maneira de festejar a vida, de agradecer a seu deus por ela. Nessa data cumprimentamos e abraçamos pessoas com as quais não nos simpatizamos, ou a quem odiamos. Mas sempre através dessa atitude formal, até falsa, há um resíduo de amor, uma esperança de reaproximação.
Em meio à alegria e à festa sempre há um jeito de pensar no aniversariante. Não em cantar hinos de louvor a um Deus todo poderoso, para que ele nos retribua com suas graças e nos reserve um lugar a seu lado quando morrermos, mas para lembrarmos de seu primeiro ensinamento: Amai-vos uns aos outros. Homens de todas as crenças, homens descrentes, mesmo não acreditando nesse deus e nesse Jesus, acreditem nesta verdade.
Costuma-se atribuir a crise que o mundo atravessa à falta de religião, quando há tantas religiões. Com certeza também não é falta de amor. Acontece que o mundo de hoje é marcado pela competitividade, pela necessidade de vencer. O capitalismo, o comunismo e todas as formas de socialismo partem do princípio de que o homem é uma máquina de produzir. Para isso ele tem que consumir, e para isso tem que produzir mais, sem tempo de nos conhecermos. Qualquer que seja a nossa crença ou descrença, aproveitemos esta época de confraternização e de paz para quebrar esse círculo vicioso. Lembremo-nos que cada um de nós é um indivíduo diferente do outro, mas com capacidade de dar e necessidade de receber amor.

Publicado na Folha Metropolitana em 23/12/2011

Cuidado com o santo ao qual pedir ajuda

Um sujeito muito religioso, que morava no décimo andar de um edifício de apartamentos, ao tentar lavar a vidraça descuidou-se, pisou em falso, e acabou caindo para o lado de fora. Homem de fé, ainda teve tempo de pedir proteção a Santo Antônio, seu protetor. Ao passar pelo quinto andar sentiu-se agarrado por dois braços fortes.
– Qual o Santo Antônio a quem o senhor apelou? – perguntou uma voz.
 – Ao Santo Antônio de Categeró – respondeu o assustado cidadão.
– Sinto muito, mas eu sou o Santo Antônio de Pádua – respondeu a voz, largando o homem, que desabou com tudo. Morreu, e certamente está descansando ao lado de seu santo de devoção, na altura celestial.
Esta é uma anedota que me contaram quando eu era ainda criança, e nunca me esqueci. Eu era católico, pertencia à Cruzada Eucarística, não perdia uma missa, e sonhava em ser padre. Daria, certamente, um belo sacerdote. Apesar disso não pude deixar de achar graça na anedota.
Sei que rir não é pecado. Aos domingos reuníamos no bairro onde morávamos e seguíamos, mais ou menos em fila, até a matriz de Nossa Senhora da Conceição da Boa Viagem, em São Bernardo do Campo. Essa piada foi contada em uma dessas caminhadas. Naquele tempo praticamente todo mundo era católico. Eram raros os protestantes, geralmente uma gente séria e pouco dada a brincadeiras. É apenas uma anedota. Mas coisas desse tipo acontecem realmente, como veremos mais adiante. Não propriamente com os santos, mas com seus intermediários.
A passagem de 2011 para 2012 aconteceu com muita chuva, em São Paulo, Rio e Minas. Houve muitos estragos e prejuízos, mas a chuva não impediu a festança, pelo menos na Grande São Paulo e no Rio de Janeiro. Houve muito foguetório, para azar dos cachorros e das pessoas mais sensíveis. Mas festa é festa, e cada um demonstra alegria como sabe.
Soube, na segunda-feira que a Prefeitura do Rio contratou a Fundação Cacique Cobra Coral para garantir o bom tempo na antiga ‘cidade maravilhosa’. Eu sabia que aquela instituição era boa para fazer prognóstico, mas não sabia que também tinha poder sobre os elementos da natureza. A notícia não diz quanto a municipalidade pagou pelo milagre, mas sei que choveu da mesma maneira em Copacabana, bairro nobre da capital fluminense.
A Fundação, segundo a notícia já explicou a situação. Disse que o culpado pela chuva foi o vento. Provavelmente o contrato com a Prefeitura incluía apenas acordo com São Pedro, e não com Santa Bárbara, também conhecida como Iansã. Ela administra as trovoadas e deve ter jurisdição também sobre o vento, coisa fora da alçada da Fundação.
O fato é que a Prefeitura do Rio gastou o dinheiro público inutilmente, e o povo fez o Réveillon debaixo de água. Se houvesse política no ‘além’, o espírito desse cacique teria tudo para ser um excelente político.

Publicado na Folha Metropolitana em 06/01/2012

O velhinho que me deu lugar no ônibus

Para começar, não sei se está correta a expressão ‘velhinho’. Talvez não seja politicamente correta, o certo seria ‘senhor idoso’. Para mim, porém, a expressão que usei parece mais carinhosa, menos formal. Essa história de politicamente correto é uma das besteiras que inventaram ultimamente, para mascarar a falta de respeito que grassa em alguns setores, que nada tem a ver com as palavras. Eu, por exemplo, sou um velhinho cego ou um cego velhinho, a gosto do freguês, e não faço questão de ser chamado de senhor idoso portador de deficiência visual.
Mas se o citado cavalheiro vier a ler esta coluna e não gostar da expressão, peço que me perdoe. A intenção não é ofendê-lo, mas exaltá-lo.
O caso é o seguinte: tomei o ônibus do meu bairro para o Centro numa manhã, não na hora do rush. Estava lotado como sempre, desde que a cidade caiu no conto do bilhete único. Aliás, estava mais lotado, não havia lugar nem nos bancos destinados a pessoas idosas, gestantes ou deficientes. Também não havia lugar atrás. Acomodei-me, como pude, segurando no ferro que fica atrás do banco do motorista. No primeiro banco estavam dois velhos (ou dois senhores idosos) a conversar. Eu agarrado, sujeito aos solavancos, distraía-me ouvindo a conversa. De repente o senhor que estava no lugar do corredor levantou-se, dizendo que ia descer logo, e eu me sentei. Mas pude ver que ele não desceu no próximo ponto, nem nos seguintes. Ficou em pé, até a entrada no Centro.
Fiquei constrangido, e pensei em levantar e devolver o lugar ao dono, pois ele chegara antes de mim. Mas temi que ficasse ruim, que parecesse desfeita. Essas situações são sempre embaraçosas. O cidadão parecia ser mais idoso do que eu, embora aparentasse muita disposição.
Talvez a diferença fosse a minha bengala, que denunciava minha condição de deficiente visual (ou cego). Mas embora eu não esteja em excelente condição física, o problema é na vista, não nas pernas.
Agora fico a pensar. Qual a razão do meu constrangimento? Afinal, ele cedeu-me lugar porque quis, eu não pedi. Gostaria de escrever que o que me preocupava era a sensação de ter usufruído de um favor de que não necessitava nem merecia. Mas também pode ser por orgulho, esse sentimento besta que a gente às vezes tem, e que nos impede de reconhecer a generosidade alheia. Apesar dos meus versos e da minha prosa, das minhas ideias e da minha vontade, não sou imune a esse mal.
Sou, afinal, uma pessoa normal, besta como todos os bípedes implumes deste planeta.

Publicado em 13/01/2012 na Folha Metropolitana (www.folhametro.com.br)

O rádio, personagem que não envelhece

Na minha primeira infância, lá pelos quatro a seis anos, a pior hora do dia era o meio da tarde, talvez às 14h ou 15h. Não sei exatamente, pois naquele tempo eu não conhecia horas e não me preocupava muito com elas. Sei que, naqueles momentos minha avó e minha mãe ficavam com os ouvidos colados no velho rádio de casa ouvindo a sua novela, transmitida pela Rádio São Paulo, e nós, crianças, éramos proibidos de fazer qualquer barulho. Obrigar criança a fazer silêncio equivale, naquela idade, a deixá-la de castigo. Esse drama acontecia de segunda a sexta-feira. Em compensação, aos sábados, o rádio permanecia ligado a tarde inteira, e, livres do castigo do silêncio forçado, todos ouvíamos a ‘Peneira Rhodine’, programa de calouros apresentado por Randal Juliano. Era apresentado pela Rádio Record, ‘a maior’.Essa emissora, que nada tinha a  ver com Edir Macedo, era mais possante, e a mais popular.
Mais tarde, já crescidinho, eu era o maior ‘freguês’ do rádio. Não perdia, a partir das 18 horas, de segunda a sexta-feira, o programa ‘Terra, sempre terra’, do Capitão Furtado, Reinaldo Pires, pela Rádio Piratininga. Nas tardes de domingos era obrigatório ouvir , pela rádio Tupi, o ‘Festa na Roça’, de Lulu Benencase. Mais tarde, já adolescente, acordava ao som de ‘Serra da Mantiqueira’ e ‘Brasil Caboclo’ pela Bandeirantes, apresentados por Biguá e Capitão Barduíno. No dia Primeiro de Abril de 1964 esses programas não foram ao ar. A manhã toda foi ocupada por um inacabável discurso do então governador Adhemar de Barros anunciando o golpe militar. Ele era um dos articuladores da coisa, e sonhava ser o presidente nomeado pelos  militares. Deu-se mal, foi cassado. A ‘Redentora’ foi especialista em devorar seus criadores.
Todas essas recordações são para ressaltar a importância do rádio. E para mostrar que, apesar de todos os avanços da tecnologia, ele não perdeu a importância. Ainda hoje é um dos mais populares meios de comunicação. Na mão dos políticos é uma arma poderosa, e sua concessão é moeda de troca dos governos. A presidente Dilma acaba de baixar um decreto regulamentando a concessão  para emissoras de rádio e canais de TV, para disciplinar a coisa.
Esses comentários servem também de gancho para lembrar que na segunda-feira o programa ‘RBN Notícias’ da Rádio Boa Nova comemora cinco anos de existência. Apresentado por Augusto Pinheiro e produzido por Eliete Ribeiro, tornou-se o jornal obrigatório de todas as tardes, mostrando as notícias fresquinhas da cidade, os comentários de jornalistas especializados nos mais diversos temas e entrevistando gente que faz acontecer. A festa irá das 14h às 19h, no Teatro Adamastor, com desfile de artistas e personalidades de Guarulhos.

Publicado em 20/01/2012 na Folha Metropolitana (www.folhametro.com.br)