Ganhei de uma amiga uma coleção de CDs da revista Veja, gravados pela Fundação Dorina Nowil, com uso exclusivo para deficientes visuais. São de 2006 a 2009. É interessante rever notícias passadas, e ainda há muitos artigos interessantes e reportagens instrutivas, que não perdem a atualidade. Sem contar com o sempre irônico e filosófico Millôr Fernandes. Numa delas ele traz uma fictícia MP do Governo: “Ficam proibidos novos escândalos até o fim do ano. A agenda está lotada.” É de 2009, mas atualíssima.
Muita gente critica a Veja por suas constantes críticas ao PT. Como se nunca antes um órgão de imprensa se especializasse em criticar quem está no governo. E se não houvesse outros órgãos que vivem a louvar o PT e desancar a oposição, taxando-a de direitista, inimiga dos trabalhadores. A revista defende o capitalismo, e é coerente, pois pertence a um grande grupo econômico. Se o melhor do capitalismo é ser
capitalista, como dizia há tempos a propaganda de um banco, o melhor do comunismo é ser sindicalista ou membro do comitê central do único partido permitido.
O escândalo da temporada envolve o Ministério dos Esportes e seu programa ‘Terceiro Tempo’, que visa a oferecer prática esportiva a crianças. Esse ministério pertence ao PCdoB, e seu ex-comandante (que saiu do governo na última quinta-feira), Orlando Silva. Ele não é o ‘cantor das multidões’, mas já atuou em Guarulhos, de forma que não posso deixar de mencionar o fato. Faço- com tristeza, pois embora não acredite mais na utopia comunista, respeito os que ainda acreditam. Conheço e privo da amizade de muitos deles e boto a mão no fogo por suas boas intenções. Mas a honestidade, bem como a desonestidade não é monopólio de qualquer partido, ideologia ou religião.
O único argumento dos que são acusados de corrupção é alegar que seus adversários também o são. Isso só demonstra que a safadeza está generalizada. Essa constatação vem ao encontro das palavras da sábia tia Zulmira, personagem de Sergio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, da ‘Última Hora’ dos anos 70: «Restaure-se a honestidade ou locupletemo-nos todos.»
Nessa época só os políticos aliados do governo militar eram corruptos. Os outros, que faziam oposição ainda não tinham aprendido o ofício. Mas a corrupção é coisa antiga, embora hoje esteja mais democratizada.
Diz uma crônica, que quando D. Pedro II seguia para o exílio, após a proclamação da República, um ex-ministro que o acompanhava reclamava. O ex-imperador voltava para a terra dos seus pais, que ainda lá reinavam, e ele, ex-ministro nada tinha. Ao que D. Pedro respondeu: «Azar seu. Por que não roubou, como os outros?».
Publicado na Folha Metropolitana em 28/10/2011
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
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