terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Escândalos acima de qualquer ideologia

Ganhei de uma amiga uma coleção de CDs da revista Veja, gravados pela Fundação Dorina Nowil, com uso exclusivo para deficientes visuais. São de 2006 a 2009. É interessante rever notícias passadas, e ainda há muitos artigos interessantes e reportagens instrutivas, que não perdem a atualidade. Sem contar com o sempre irônico e filosófico Millôr Fernandes. Numa delas ele traz uma fictícia MP do Governo: “Ficam proibidos novos escândalos até o fim do ano. A agenda está lotada.” É de 2009, mas atualíssima.


Muita gente critica a Veja por suas constantes críticas ao PT. Como se nunca antes um órgão de imprensa se especializasse em criticar quem está no governo. E se não houvesse outros órgãos que vivem a louvar o PT e desancar a oposição, taxando-a de direitista, inimiga dos trabalhadores. A revista defende o capitalismo, e é coerente, pois pertence a um grande grupo econômico. Se o melhor do capitalismo é ser


capitalista, como dizia há tempos a propaganda de um banco, o melhor do comunismo é ser sindicalista ou membro do comitê central do único partido permitido.


O escândalo da temporada envolve o Ministério dos Esportes e seu programa ‘Terceiro Tempo’, que visa a oferecer prática esportiva a crianças. Esse ministério pertence ao PCdoB, e seu ex-comandante (que saiu do governo na última quinta-feira), Orlando Silva. Ele não é o ‘cantor das multidões’, mas já atuou em Guarulhos, de forma que não posso deixar de mencionar o fato. Faço- com tristeza, pois embora não acredite mais na utopia comunista, respeito os que ainda acreditam. Conheço e privo da amizade de muitos deles e boto a mão no fogo por suas boas intenções. Mas a honestidade, bem como a desonestidade não é monopólio de qualquer partido, ideologia ou religião.


O único argumento dos que são acusados de corrupção é alegar que seus adversários também o são. Isso só demonstra que a safadeza está generalizada. Essa constatação vem ao encontro das palavras da sábia tia Zulmira, personagem de Sergio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, da ‘Última Hora’ dos anos 70: «Restaure-se a honestidade ou locupletemo-nos todos.»


Nessa época só os políticos aliados do governo militar eram corruptos. Os outros, que faziam oposição ainda não tinham aprendido o ofício. Mas a corrupção é coisa antiga, embora hoje esteja mais democratizada.


Diz uma crônica, que quando D. Pedro II seguia para o exílio, após a proclamação da República, um ex-ministro que o acompanhava reclamava. O ex-imperador voltava para a terra dos seus pais, que ainda lá reinavam, e ele, ex-ministro nada tinha. Ao que D. Pedro respondeu: «Azar seu. Por que não roubou, como os outros?».






Publicado na Folha Metropolitana em 28/10/2011

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