Permitam que eu me apresente. Sou um mamífero da espécie homo sapiens, macho (mas não machista ou machão), quase setuagenário, paulistano, paulista, brasileiro, eurodescedente. Sou jornalista, aposentado por invalidês, mas ainda sirvo para alguma coisa. Por exemplo, escrever com meu computador falante, munido com o programa Dos Vox, elaborado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Sou DV e BV, ou deficiente visual com baixíssima visão. Mas podem me chamar de cego, ceguinho ou cegueta, não tenho medo de palavras. Ou melhor, não tenho preconceito contra palavras. Ando com uma bengala branca que me serve de olhos e de documento de cego. Não tenho qualquer religião, não acredito em duendes, mas conto sempre com uma legião de anjos-da-guarda, todos com braços e pernas, sem asas. Alguns são profissionais, treinados, do Metrô ou da CPTM. Outros são amadores, amigos do peito ou bons samaritanos que encontro casualmente.
Alguns não sabem como conduzir um cego, mas a todos agradeço pela boa vontade. Só quem se torna deficiente descobre como realmente o brasileiro sabe ser humano e solidário.
Estou em busca de uma frase para iniciar bem minha jornada na Folha Metropolitana, no mês de dezembro e no espírito natalino, que deve contagiar a todos, mesmo os não cristãos, desde que não sejam chatos. Ia quase escrevendo que queria entrar com o pé direito, mas isso poderia ser considerado como preconceito contra o pé esquerdo. Não quero ser politicamente correto por que não gosto de pensar politicamente, e já não sei mais (justamente por causa dos políticos) o sentido da palavra ‘correto’.
Há muitos dias e muitas campanhas contra tudo que se considera discriminação. Há muita gente que se sente discriminada, e acredito que essas coisas é que se tornam discriminatórias. É o Dia da Consciência Negra, da Mulher, do Deficiente, da Criança e do Adolescente, contra a agressão à mulher, contra a homofobia, e uma série interminável de reticências e etcéteras. Tudo isso poderia ser transformado em Dia da Consciência Humana, contra toda espécie de discriminação e de violência.
Essa data poderia ser comemorada de 1 de janeiro a 31 de dezembro. O único problema é que não haveria feriado para comemorá-la.
Ah, achei a frase: “Seres humanos de todos os sexos, nacionalidades, etnias, crenças (e descrenças), partidos, ideologias, torcidas, doenças, taras e manias, uni-vos (respeitando as diferenças e sem perder as características individuais e grupais). Nada tendes a perder se não os vossos preconceitos, complexos e neuras”.
Publicado na Folha Metropolitana em 03/12/2011
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
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