Nós brasileiros podemos nos consolar com os espanhóis. Eles também votaram inconscientemente, movidos pela ira contra a crise que assola o país, reflexo da crise mundial. É claro que não me atrevo a dar palpite sobre qual seria o melhor candidato, mas eles não votaram na direita por julgarem que Rajoy era melhor do que Rubalcaba, mas apenas para demonstrar sua ira contra o atual primeiro-ministro, o socialista Zapatero, que tomou medidas de corte de gastos para debelar a crise.
Acontece que o candidato de direita anunciou, de maneira honesta, que se eleito reduziria os gastos. Votaram de pura e inconsequente ira, como quem tropeça numa pedra e xinga a mãe dela. Se a crise não for debelada, nas próximas eleições votarão novamente no Partido Socialista, para vingar-se de Rajoy. Resta saber que gastos serão cortados. Não sei se na Espanha, como aqui, há orgia de gastos em cargos e benesses para beneficiar os apaniguados do governo.
Nós aqui também costumamos votar apenas para demonstrar nossa raiva contra os eternos desmandos dos governantes, independente de partidos. Votamos em Tiririca, Clodovil, Enéas e outros tipos folclóricos, como a dizer que todos são a mesma porcaria. Acontece que esses tipos em quem descarregamos nosso protesto são candidatos de fato, se elegem e tomam posse, tornando ainda menos sério o já desmoralizado Legislativo. No passado, antes da urna eletrônica tínhamos que escrever o nome e o número do candidato. A coisa tinha mais graça, pois votava-se no macaco Tião, no rinoceronte Cacareco, no bode Cheiroso. Esses ‘candidatos’ não tomavam posse, o voto era anulado. Podíamos também escrever na cédula palavras de ordem ou piada. Afinal, se nenhum dos candidatos nos agrada nada mais legítimo do que anular nosso voto. Embora existam candidatos sérios em todos os partidos e votar neles seria a melhor forma de aprimorar a nossa salada política. Nas eleições majoritárias também costumamos votar no candidato ‘menos pior’ para derrotar o ‘mais pior’.
No Egito algumas mulheres protestaram saindo nuas na rua. Dependendo de suas idades e formas físicas, é uma boa ideia. Melhor do que queimar pneus, depredar veículos e edíficios públicos ou privados, ou votar em Tiriricas. Eu não canso de repetir que política não é coisa séria.
Talvez eu seja o analfabeto político de que Brecht falou. Mas a coisa está tão bagunçada que acredito que aqui e agora essa pecha caiba mais nos líderes partidários sem ideologia e nos candidatos que nos pedem voto, sem saber o que fazer com o mandato que lhes outorgarmos.
Publicado na Folha Metropolitana em 02/12/2011
Publicado na Folha Metropolitana em 02/12/2011
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