Há cerca de um mês minha amiga Guilhermina ligou-me avisando que Valdir Del Chiaro oferecêra-me o gravador cassete que fora de seu tio, o saudoso líder espírita Amílcar Del Chiaro, autor de livros e artigos sobre a doutrina, e de textos radiofônicos para a rádio Boa Nova. Ele é uma das pessoas que mais admirei na vida. Homem doente teve uma vida sofrida, mas era extremamente alegre e otimista, dono de uma generosidade à toda prova. A doutrina espírita, para ele, não era apenas tema de seus escritos, mas refletia-se em seu modo de viver.
Sou uma espécie de ‘herói da resistência’ do cassete, aparelho tão prático e necessário, infelizmente fora de linha. Já escrevi algo a respeito. Já tinha um, mas não poderia recusar a oferta, principalmente por ter sido de tão admirável personagem. Seria como uma relíquia, uma lembrança. Marcamos que no sábado seguinte iríamos ao centro espírita Herculano Pires, onde seu Amílcar militava e seu sobrinho milita. Cerca de uma hora depois do telefonema de Guilhermina meu gravador quebrou. Seria uma simples coincidência?
No sábado marcado uma forte gripe me derrubou. Era um dia horrível, frio e chuvoso dessa hibernal primavera, e eu não pude ir. No sábado seguinte a Academia Guarulhense de Letras realizou o Banquete Literário, e também não pude comparecer. Neste último sábado, 3/12, Dia Internacional da Pessoa Deficiente, o Conselho Municipal das Pessoas Deficientes realizou um programa cultural, mas ele terminou cedo, e deu para comparecer ao centro. Por mais uma dessas coincidências, o palestrante do dia era Valdir Del Chiaro, e o tema era justamente a vida de seu ilustre tio, que desencarnou no dia 29 de novembro de 2006.
Não sou espírita, não tenho religião, nem filosofia ou ideologia. Tenho muitas dúvidas sobre as verdades absolutas e o ponto de interrogação parece-me tão útil como a minha bengala branca de cego. Mas gosto das palestras espíritas, que falam de humanismo, solidariedade, caridade, lições que Jesus nos deixou, e que outras religiões pouco falam. Esses atributos, no meu entender, são deveres básicos dos seres humanos, independente de terem ou não uma religião, acreditarem ou não em um deus.
Num momento de dificuldade na minha vida, quando a doença me obrigou a ficar preso em casa, com risco de depressão, Guilhermina levou-me ao Herculano Pires, e nem ela nem o saudoso Amílcar podem saber quanto isso me fez bem e ajudou na minha recuperação. Por isso, apesar da minha descrença nas religiões e nas imagens sagradas, o gravador que ganhei, além de sua utilidade prática, vale-me como um amuleto contra a descrença na humanidade.
Publicado na Folha Metropolitana em 09/12/2011
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