A sessão ordinária da última terça-feira, dia 12, da Câmara Municipal de Guarulhos começou com críticas pela não realização de sessões anteriores, por falta de quórum, seja por manobra regimental da bancada governista, seja por outro motivo qualquer. A crítica partiu não só de vereadores da oposição, mas também da situação. Quem quebrou essa rotina foi o vereador Jonas Dias, do PT, que pediu a palavra para comunicar o falecimento do antigo vereador Gabriel Silva, e pedir um minuto de silêncio em sua homenagem. Em seguida Luíza Cordeiro, do PCdoB usou a tribuna, também para criticar a ausência de sessão na terça-feira anterior, quando se comemorava o Dia Mundial do Meio Ambiente. Aproveitou para convidar os vereadores para a solenidade da entrega do Selo Ambiental, que se realizaria na quarta-feira, e solidarizou-se com o colega petista no requerimento do minuto de silêncio. Edmilson de Souza, também do PT, que presidia a sessão anunciou que atenderia ao requerimento após o Pequeno Expediente.
Esqueceu-se, e deu início à Ordem do Dia. Não fiquei até o fim da sessão, e não sei se o requerimento foi atendido até o término dos trabalhos.
Mas o que é um minuto diante da vida desse batalhador socialista, que morreu aos 90 anos, e fez parte não só da História de Guarulhos, mas também do Brasil? Foi companheiro de Monteiro Lobato na sua luta pelo petróleo brasileiro, quando o ditador Vargas, aliado da Shell considerava essa tese subversiva. Fundou o Partido Socialista Brasileiro ao lado de Cid Franco, Freitas Nobre, Rogê Ferreira e tantos outros, numa época em que as palavras tinham sentido e os partidos tinham ideologia. Cassado pelo golpe militar de 64, ajudou a fundar, mais tarde, o MDB, e fez parte da bancada oposicionista na Câmara Municipal de Guarulhos.
Abandonou a política antes dessa degringolada que assistimos hoje, quando não podemos saber quem é quem, qual a posição de qualquer partido ou qualquer político, com raras exceções. Vi-o pela última vez, já debilitado e sem vontade de falar ao lado de Valdomiro Veloso e Kan Kise, seus parceiros dessa época na nossa Câmara Municipal.
E agora, quem contará essa história? Quem trará, através da vida, das ações desse velho socialista, retalhos de uma época não tão distante, para que os mais jovens nela se espelhem? Guarulhos é uma cidade, um município, sem identidade e sem história, em um país sem memória. Cada vez que morre alguém que fez parte desse passado já morto, mais pobres ficamos. Ainda bem que existe o ‘Guarulhos tem História’ cujos abnegados membros terão exaustivo trabalho para pesquisar parcos documentos para restaurar pelo menos parte do passado e da nossa identidade.
Publicado na Folha Metropolitana em 15 de junho de 2012