Navegando rio acima
num barquinho de papel,
numa aventura cruel,
cuja esperança me anima,
eu vou atrás de uma rima
que rime com tudo, enfim
que existe dentro de mim
e nunca será olvidado.
Eu vou atrás do passado
da nascente de onde eu vim.
Como um novo bandeirante,
de costas para o oceano,
eu vou seguindo o meu plano,
meu viver itinerante
e nesse buscar constante,
nessa viagem sem fim,
quero ser um curumim,
um molequinho levado,
que hei de encontrar no passado,
na nascente de onde eu vim.
Cansado de modernagem,
quero voltar às origens
para fugir das vertigens,
para fugir da miragem,
e nessa louca viagem
eu quero fugir assim,
de um presente tão ruim,
de tanto sonho frustrado
e vou atrás do passado
da nascente de onde eu vim.
Nesta viagem de volta
quero rever as paisagens
que vi na outra passagem.
Paisagens talvez já mortas,
escritas por linhas tortas,
em garranchos de nanquim,
começando pelo fim
no meu errar acertado
eu vou atrás do passado
da nascente de onde eu vim.
Nas margens da minha vida
vi tantas flores se abrindo,
a natureza sorrindo,
paisagens hoje esquecidas,
que muita gente duvida
até da cor do jasmim,
do perfume do alecrim
e dos campos orvalhados,
mas vou atrás do passado,
da nascente de onde eu vim.
E mesmo assim, com coragem
vou levando meu barquinho,
pois aprendi a ser sozinho
e nem olhar para a margem.
Quando sentir as paragens
que pairam dentro de mim,
eu terei chegado enfim
ao meu país encantado,
terei chegado ao passado,
à nascente de onde eu vim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário