terça-feira, 20 de maio de 2008

Rio acima

Navegando rio acima

num barquinho de papel,

numa aventura cruel,

cuja esperança me anima,

eu vou atrás de uma rima

que rime com tudo, enfim

que existe dentro de mim

e nunca será olvidado.

Eu vou atrás do passado

da nascente de onde eu vim.

Como um novo bandeirante,

de costas para o oceano,

eu vou seguindo o meu plano,

meu viver itinerante

e nesse buscar constante,

nessa viagem sem fim,

quero ser um curumim,

um molequinho levado,

que hei de encontrar no passado,

na nascente de onde eu vim.

Cansado de modernagem,

quero voltar às origens

para fugir das vertigens,

para fugir da miragem,

e nessa louca viagem

eu quero fugir assim,

de um presente tão ruim,

de tanto sonho frustrado

e vou atrás do passado

da nascente de onde eu vim.

Nesta viagem de volta

quero rever as paisagens

que vi na outra passagem.

Paisagens talvez já mortas,

escritas por linhas tortas,

em garranchos de nanquim,

começando pelo fim

no meu errar acertado

eu vou atrás do passado

da nascente de onde eu vim.

Nas margens da minha vida

vi tantas flores se abrindo,

a natureza sorrindo,

paisagens hoje esquecidas,

que muita gente duvida

até da cor do jasmim,

do perfume do alecrim

e dos campos orvalhados,

mas vou atrás do passado,

da nascente de onde eu vim.

E mesmo assim, com coragem

vou levando meu barquinho,

pois aprendi a ser sozinho

e nem olhar para a margem.

Quando sentir as paragens

que pairam dentro de mim,

eu terei chegado enfim

ao meu país encantado,

terei chegado ao passado,

à nascente de onde eu vim.

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