segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A divina novela por linhas tortas

Na minha opinião, um dos personagens mais marcantes da teledramaturgia brasileira é Sassá Mutema, da novela "O Salvador da Pátria", de Dias Gomes, na TV Globo. É interpretado pelo grande ator Lima Duarte, especialista nesse tipo de papel.
Protótipo do matuto mineiro, da região mais seca e pobre do estado, é analfabeto e ingênuo, mas dono de uma grande filosofia, aprendida em sua vida difícil, provocada mais pelos políticos corruptos de sua região do que pela natureza. Uma professora abnegada ensina-o a ler e a escrever, dá-lhe noções de cidadania e ele se torna líder de sua gente e acaba se elegendo prefeito. O poder sobe-lhe à cabeça, envolve-se com traficantes e faz mil e uma trapalhadas.A vida às vezes imita a arte, mas de forma imperfeita.
No Brasil de hoje, na vida real, temos um exemplo disso. Um cidadão nascido no paupérrimo sertão de Pernambuco imigrou para São Paulo, exerceu várias profissões humildes, empregou-se numa grande metalúrgica e se transformou num grande líder sindical. Ao lado de destacados membros da intelectualidade nacional, teve papel preponderante na redemocratização do país.Fundou um partido político, meteram-lhe na cabeça que deveria ser presidente da República e ele gostou da idéia. Não quis começar por baixo, aprendendo aos poucos a cozinhar esse indigesto sarapatel que é a política. Tinha pressa de salvar a pátria e acabou se elegendo e reelegendo.
Não diria que se envolveu com o tráfico, mas foi envolvido pelos trezentos picaretas que há décadas sugam o Brasil, imunes a qualquer transformação política. Teve de fazer o jogo deles e fazer-lhes muitos agrados às custas da pátria. Esqueceu-se de seus propósitos, mas não esqueceu o discurso. Sente-se realizado à luz dos holofotes e com os índices do Ibope, que lhe dão a doce ilusão de que alguma coisa está dando certo.
Novelas sempre têm final feliz. Sassá Mutema livrou-se dos seus problemas, regenerou-se e conseguiu desempenhar o papel de salvador da pátria. Pena que a História não é escrita por Dias Gomes.

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