No verão de 1978, eu estava com meu amigo Nício Pinhal de Souza tomando cerveja na padaria Símbolo, que ficava na esquina rua Dom Pedro II com a Padre Celestino. Estava com camiseta de malha, bermudas e chinelos de dedo. Na época eu podia usar chinelos de dedo, porque ainda tinha o dedão do pé direito. Cerveja já não podia tomar, pois o diabetes é meu velho companheiro de jornada. Mas eu não dava importância a ele, e bebia. Eis senão quando surgem à porta do estabelecimento dois ilustres amigos meus. Um era o doutor Assis de Almeida, advogado e empresário da cidade e o outro o saudoso jornalista Onofre Leite, que valorizou intensamente a imprensa de Guarulhos e do ABC. Eles estranharam a minha situação, e perguntaram se eu não ia tomar posse na Academia Guarulhense de Letras, da qual eu e o Onofre éramos co-fundadores, ao lado de outros valorosos espíritos da cidade e cuja solenidade dar-se-ia dali a poucas horas. Eu havia me esquecido totalmente.
O Onofre morava lá mesmo, na Padre Celestino, e foi para seu apartamento enfatiotear-se. O professor Assis, por sua vez, me levou à sua casa, onde tomei banho e ali mesmo deixei a bermuda, a camiseta, a sandália e até as cuecas. O advogado se encarregou de me deixar vestido para a ocasião, dando-me o terno, a camisa, a gravata, a cueca e um belo par de sapatos.O paletó era um pouco maior do que eu, mas para quem nunca se preocupou com a aparência, como é meu caso, estava ótimo. Logo, pegamos novamente o Onofre e nós três nos dirigimos à FIG, onde a solenidade já estava preparada e o nosso atraso já estava preocupando os demais confrades.
Todo acadêmico, ao ser escolhido, escolhe um escritor conhecido para ser seu patrono. Eu, desleixado como sempre, nem havia pensado no caso. Deram-me então o nome de Vicente de Carvalho. Sorte minha, pois esse patrono foi um grande poeta paulista, natural de Santos, autor de poemas românticos, falando do amor e do mar. Sua poesia é mais conhecida, porém, é uma infantil, denominada “A Fonte e a Flor”. Além disso, o poeta foi um grande empreendedor, e criou o serviço de lanchas entre Santos e Guarujá. O bairro onde as embarcações aportam, até hoje chama-se Vicente de Carvalho.
Após trinta anos, eis que serei presidente por dois anos desse móvel sodalício, que talvez eu não soube valorizar como deveria. Vou fazer o melhor que posso.
* O texto em destaque foi suprimido da publicação no Diário de Guarulhos, devido ao espaço limitado.
quinta-feira, 31 de julho de 2008
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